Chamada Pública - Proposta de Dossiê Temático para a Revista Mnemosine - UFCG
A Inquisição em foco, dois séculos após sua extinção: Estruturas, personagens, vítimas e possibilidades de análise
Angelo Adriano Faria de Assis (UFV) e Marcus Vinícius Reis (UNIFESSPA)
Em 2021, comemora-se os duzentos anos do fim da Inquisição portuguesa, instituição que ao longo dos seus 285 anos de funcionamento, iniciado em 1536, julgava-se responsável por zelar pela pureza católica, perseguindo e processando aqueles que, em algum sentido, ameaçassem a Igreja, fosse no reino, fosse em seus domínios, estendidos, para além da metrópole, entre o sul da América e os confins da Ásia. Com o monopólio católico no Mundo português, todo e qualquer indivíduo tornava-se sujeito ao controle inquisitorial. No Brasil, por exemplo, o Santo Ofício atuou enviando visitações e criando, com o tempo, uma capilar rede de representantes, como os familiares e comissários. Se os suspeitos de judaísmo foram as principais vítimas, outros comportamentos tidos como desviantes igualmente preencheram as páginas de confissões, denúncias e processos do Tribunal do Santo Ofício: bígamos, solicitantes, comportamentos sexuais desviantes de todo o tipo, ofensas e questionamentos aos símbolos e dogmas cristãos, práticas mágico-religiosas, enfim: um extenso rol de culpas que, no limite, colocava todos (embora alguns mais do que outros) sob suspeita.
Neste dossiê, convidamos os especialistas e interessados no assunto para dialogar sobre as diversas facetas do Tribunal, tais como: sua estrutura e funcionamento; os funcionários e atuações; as vítimas e as supostas culpas; estudos de caso; julgamentos, punições e fontes processuais; o imaginário da época e posterior sobre a Inquisição e tudo que a cerca; as representações literárias, iconográficas e fílmicas; críticos e apoiadores do Santo Ofício; vítimas e colaboradores de sua ação persecutória; os desdobramentos da Inquisição no mundo atual; historiografia clássica e as novas perspectivas de análise. Enfim, diferentes temas e possibilidades de pensar a Inquisição e seus personagens. É bom frisar, a historiografia nunca se debruçou tanto e formas tão diversificadas sobre o tema.
No mundo pandêmico (nos mais diversos sentidos) em que vivemos, quando a intolerância se desvela e ameaça os direitos e o respeito pelo próximo, nada mais atual do que pensar como estas questões foram enfrentadas em outros contextos, e como se logrou a cura desta cegueira que excluía em nome da fé. É preciso, afinal, entender que é possível e preciso resistir, sempre.
Angelo Adriano Faria de Assis – Universidade Federal de Viçosa (UFV)
Marcus Vinicius Reis – Universidade do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA)