SOLANO TRINDADE, O POETA DO POVO. UMA SÍNTESE DE RAÇA E CLASSE NO BRASIL
Resumo
Este artigo analisa o percurso do poeta Solano Trindade a partir do Teatro Popular Brasileiro (TPB) e de sua presença no Partido Comunista do Brasil (PCB), de maneira a compreender algumas intersecções entre a luta antirracista de Trindade e sua atuação enquanto militante comunista, que combateu e sofreu perseguições de duas ditaduras no Brasil: a varguista (1937-1945) e a militar (1964-1985). O TPB foi fundado por Solano, Margarida Trindade e o sociólogo Edison Carneiro, no início dos anos 1950. Muitos dos poemas de Trindade foram transformados em peças teatrais para o grupo, que mesclava elementos do folclore e da religiosidade afro-brasileira e utilizava atores amadores negros e não-negros oriundos das classes populares, com o objetivo de produzir um teatro pedagógico que buscava despertar a “consciência” da classe trabalhadora e devolver as riquezas culturais populares ao povo em forma de arte. Trindade foi por mais de quatro décadas militante do PCB, incorporando dentro do partido diversas reflexões sobre o racismo vigente na sociedade brasileira e foi um elo de gerações entre velhos militantes, que iniciaram sua atuação na década de 1930, com jovens militantes de esquerda, de formação marxista no movimento negro na década de 1970, que culminou com a fundação do Movimento Negro Unificado (MNU) e o Festival Comunitário Negro Zumbi (FECONEZU).