ACERVOS DIGITAIS E O TRIBUNAL DO SANTO OFÍCIO: UMA NOVA PRESENÇA DO PASSADO A PARTIR DE PAULA DE SEQUEIRA E WILLIAM SHAKESPEARE
Resumo
O presente artigo se articula em dois níveis. Um deles compreende a obra Los siete libros de Diana, de Jorge de Montemayor publicada em 1559 e proibida pela Inquisição. A partir de uma pesquisa atenta, verifica-se que tal publicação está na dobra entre o dramaturgo inglês William Shakespeare, que usou a história como base para sua peça “Os dois cavalheiros de Verona”, e a lisboeta Paula de Sequeira, condenada pelo Tribunal do Santo Ofício pelo crime de “leitura proibida”. O livro é o ponto que une essas duas biografias distintas, apesar de coetâneas, e a leitura de Diana provoca diferentes resultados. Aproximando o cenário desses três perfis distantes - Paula, Shakespeare e Montemayor -, o artigo dá um salto a fim de refletir sobre acervos digitais e historiografia. Atualmente estão disponibilizadas diferentes versões do romance pastoril, assim uma vasta documentação referente à Inquisição, sobretudo no Arquivo Nacional Torre do Tombo, no qual se encontra o processo contra Paula de Sequeira. Pela via das bases de dados, a revisitação ao passado desafia a reativação de personagens tanto conhecidos quanto anônimos, ao mesmo tempo em que pede a interrogação do próprio meio em que tal tecnologia está inserida. Ao disponibilizarem suas coleções online, arquivos e bibliotecas, que por muito tempo ocupavam apenas espaços físicos, têm reconfigurado certos gestos de pesquisa. Um deles é precisamente a conversão de tais espaços de memória em espaços de produção de pensamento e criação de subjetividades por meio da digitalização.