GOVERNO RELIGIOSO DA VIDA: A IMPRENSA ESPÍRITA BRASILEIRA PENSANDO O ENVELHECIMENTO HUMANO
Resumo
O artigo discute, a partir do exame de um artigo publicado no periódico “O Reformador”, em circulação desde o século XIX, o olhar espírita sobre a experiência do envelhecimento. O estudo parte da consideração da historicidade dos recortes geracionais, especialmente a velhice. O diálogo teórico principal se realiza com os estudos culturais, com certa produção inspirada em Norbert Elias e com a análise de discurso inspirada em Michel Foucault. O foco no discurso espírita deu-se em função da importância do elemento religioso na sociabilidade brasileira contemporânea, na qual as religiões mediúnicas, entre elas o espiritismo, são muito importantes. A problematização do corpus nos levou à compreensão de que o espiritismo pensa a velhice como uma etapa da vida com duas características principais. Por um lado, é um momento a mais de experiência e de construção da vida em si mesma, com seus desafios e possibilidades. Por outro lado, a velhice é descrita e explorada ali como sendo mais um momento em que o ser humano pode e deve enfrentar a si mesmo, no sentido de sua transformação e melhoria. No movimento do texto em estudo são acionadas diversas estratégias discursivas de legitimação de seu regime de verdade e de seu olhar específico. Enfim, trata-se de uma estratégia de governo da vida, no sentido de que as formas da velhice são associadas às escolhas anteriores do sujeito.