JUDEUS SOB SUSPEITA: A TRÍADE DE JUDEUS NOVOS MAGNATAS DO BRASIL HOLANDÊS
Resumo
Investigando os interstícios da “Babel Religiosa” que se configurou o território sob domínio neerlandês na primeira metade do século XVII, a proposta do presente artigo é cruzar as fontes inquisitoriais com as calvinistas, além das documentações administrativas e das crônicas do período, a fim de pensar a dimensão persecutória existente em tempos coloniais. A partir da reconstrução de três casos particulares, dos judeus Duarte Saraiva, Moisés Navarro e Benjamin de Pina, nomeados como “judeus graúdos”, “capitalistas” e até “magnatas” pela historiografia corrente, o trabalho visa questionar como tais indivíduos escaparam das hostilidades religiosas dirigidas aos membros da comunidade judaica do Recife, a qual teve alguns nomes processados pelo tribunal inquisitorial. Homens de negócios, posses e grandes cabedais, politicamente influentes e práticos no judaísmo, conseguiram escapar das suspeições católicas e calvinistas e continuavam a congregar junto à comunidade judaica enquanto prosperavam economicamente a ponto de adquirirem uma esfera de influência política capaz de blindá-los das acusações recebidas. A avaliação de sua circulação no território permite supor que, além da capilaridade econômica e do poder político, as relações pessoais com as autoridades neerlandesas possibilitaram a estas figuras ilustres judaizarem com alguma segurança. A análise dos casos reaviva o debate acerca dos limites e das fronteiras das instituições disciplinarias modernas no mundo atlântico.